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O fim dos acordos entre a Frelimo e a Renamo?

O fim dos acordos entre a Frelimo e a Renamo?

Por: Zito do Rosário Ossumane (Régulo de Inhassunge)

 

“Desta vez não irei aceitar acordos fraudulentos”. Essa declaração de Momade parece apontar para uma admissão tácita de que, em momentos anteriores, a Renamo acabou por aceitar acordos que não eram totalmente transparentes, que comprometiam a vontade do povo e que, acima de tudo, enfraqueciam a capacidade de o partido representar efectivamente os interesses dos moçambicanos que desejam uma mudança.

 

É inegável que a política moçambicana tem sido marcada por ciclos de tensões e tréguas, quase como uma dança incômoda entre a Frelimo e a Renamo. A história de Moçambique, desde a assinatura dos Acordos de Paz de Roma em 1992, mostra-nos que a pacificação e a estabilidade têm sido compradas a preço de concessões, muitas vezes feitas em gabinetes a portas fechadas, longe do escrutínio público. E, convenhamos, quando essas portas se abrem, o que se revela muitas vezes são resultados contestados, processos viciados e promessas não cumpridas.

 

Afirmar que “desta vez” não haverá aceitação de acordos fraudulentos é, sem dúvida, um sinal de maturidade política. Conquanto, levanta a pergunta: por que antes foram aceites tais acordos? Será que Ossufo Momade, ou mesmo a Renamo, cederam a pressões internacionais ou a necessidades imediatas de manutenção da paz em detrimento de uma justiça eleitoral genuína? Ou será que os acordos firmados foram uma estratégia de sobrevivência política, num contexto onde a oposição se viu sempre à margem de um poder centralizador?

 

A própria estrutura política de Moçambique tem se revelado insuficiente para acomodar a pluralidade de vozes. O resultado? Um país onde a paz política tem sido frequentemente mantida à custa da justiça eleitoral e da verdadeira vontade popular. Quando Ossufo Momade se posiciona contra os “acordos fraudulentos”, ele nos obriga a refletir sobre o que realmente tem sido sacrificado em nome da paz – e se é possível alcançar uma paz que não esteja alicerçada em compromissos duvidosos.

 

O que está em jogo, nesta próxima eleição, não é apenas a escolha de quem irá ocupar os cargos de liderança, mas a própria legitimidade do processo democrático em Moçambique. Um país que ainda carrega as cicatrizes da guerra civil, e que já assistiu a fraudes eleitorais documentadas, não pode mais aceitar que o seu futuro seja decidido em processos opacos ou por elites políticas que fazem concessões em nome de uma estabilidade ilusória.

 

A oposição, na figura de Ossufo Momade, tem agora a oportunidade de redefinir o seu papel na história política do país. Mas isso requer mais do que simples declarações fortes. Requer uma luta consistente pela transparência, por reformas no sistema eleitoral e, sobretudo, por uma postura que esteja intransigente perante as manipulações que tantas vezes definiram os nossos resultados eleitorais.

 

Esta é a encruzilhada de Ossufo Momade: ou ele lidera uma nova era de resistência activa contra os velhos vícios do sistema, ou, como no passado, acaba por ceder, como tantos outros, a uma paz que na verdade é uma fachada para a continuação do status quo.

 

Neste momento, o povo moçambicano merece mais do que promessas vazias ou acordos fragilmente negociados nos bastidores. O que está em jogo não é apenas o destino de Ossufo Momade ou da Renamo, mas a possibilidade de Moçambique, finalmente, ter uma democracia que seja fiel à vontade do seu povo.

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